domingo, 15 de abril de 2012

Os verdadeiros donos. Donos de quê?

 "Todo dia era dia de índio, e hoje só lhe resta o 19 de abril". Assim denuncia a canção, mas a sociedade branca, "civilizada" está consciente disso? É possível lembrar da existência desse povo e de suas necessidades ao longo dos 365 dias do ano, ou somente no mês de abril quando "invadem" as cidades com suas "cestinhas e balaios"?
Aprende-se na escola, desde cedo, que foram os indígenas os primeiros a habitarem o Brasil. Viviam aqui em perfeita harmonia com a natureza, com a sua cultura, sua religião e sua identidade próprias. Não havia por aqui cercas ou arames para separar propriedades; não havia divisas; o território era livre; a mãe terra pertencia a TODOS.
Que pena que os ensinamentos escolares são esquecidos tão depressa! Diz-se isso porque um povo tão sábio, que vivia em sintonia com o cosmo teria tantos ensinamentos para dar e, infelizmente, a eles não lhes foi, nem é dada essa oportunidade, a não ser, em raras exceções, no 19 de abril!
Cabe destacar aqui que hoje, a realidade da população indígena é muito cruel; estão encurralados em pequenos espaços, sem matas nativas, sem caça nem pesca. Há grupos acampados em beiras de estradas, próximos a grandes cidades expondo-se a riscos porque precisam buscar formas de sobrevivência para os seus. É dessa forma que, em contato com o mundo do branco, as drogas e a violência chegam até as tribos e aldeias contribuindo para a degradante situação de vulnerabilidade social em que se encontram.
Outro ponto a ser mencionado é que além da não valorização e respeito à cultura e identidade dos povos indígenas, o descaso das autoridades para com a real situação em que vivem há, também, a discriminação e o desrespeito para com o ser humano que é o indígena. Trata-se do fato de que muitos "cidadãos" brancos sentem-se incomodados com a presença desse povo quando estes estão circulando pelas cidades em busca de sobrevivência; isso acontece porque os brancos "cheirosos e bem vestidos" que circulam pelas praças e supermercados precisam deparar-se com os indígenas que, em virtude do local onde vivem e da situação de abandono e pobreza em que se encontram, não podem apresentar-se do mesmo modo que o homem branco. Em muitos lugares, eles são até proibidos de entrar para não "constranger" os tão "bem apresentados" clientes.
Infelizmente, esta é a sociedade civilizada e politizada em que se vive hoje. Passados mais de 500 anos de chegada da "civilização" na América é possível notar que muito se avançou no que diz respeito ao lucro, ao capital, ao acúmulo de terras e renda (para poucos brancos). Contudo, é crescente também o desrespeito à natureza e ao meio ambiente como um todo mas, principalmente, para com àqueles que representam o início de tudo e que hoje são lembrados apenas no 19 de abril.
É preciso que as pessoas vejam no outro, no diferente, uma forma de diálogo como possibilidade de crescimento pessoal e de desenvolvimento de potencialidades para o bem comum. Contudo, é necessário que esse diálogo aconteça em todas as épocas do ano, com todos os grupos e em todos os espaços sociais, pois a sociedade precisa estar aberta ao debate para que se busquem soluções que amenizem as atrocidades cometidas com os povos indígenas ao longo da história.
Professora Izandra Alves
Semana dos Povos Indígenas